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UM EU SEM VOCÊ


Abandonar o nosso orgulho e dar o braço a torcer por alguém acaba sendo sempre um dilema: ou você fica com esse orgulho que não te deixa expressar o que você está sentindo, ou você dá o braço a torcer e diz tudo o que está sentindo para esse tal alguém: o que pode acabar em arrependimento. Ou não. Mas como se decidir? Acho que esta é uma daquelas perguntas em que só encontramos uma resposta na prática. Arriscando e descobrindo.

Com você eu decidi correr o risco. Deixei de lado este meu orgulho e te disse que sentia falta de como nós costumávamos ser. Eu precisava saber como você se sentia em relação a isto. Mas você simplesmente ignorou e disse que já não sentia mais falta de como nós fomos um dia. Foi tão difícil ter isso como resposta. Mas, também, de certo modo, foi curioso perceber como o tempo passa igualmente para todas as pessoas, mas que nem todas conseguem acompanha-lo se desprendendo tão facilmente de coisas que as acompanharam por algum período desse tempo.

Seja esse tempo longo ou curto, tudo o que surge no decorrer do nosso caminho marca as nossas vidas. Será que essas coisas devem ser simplesmente esquecidas com tanta facilidade assim? Você faz parecer que sim. Já eu nunca fui do tipo que consegue se desprender e esquecer das coisas com toda essa facilidade. Pelo menos não das coisas que foram importantes para mim e que marcaram minha vida, por algum período dela.

Eu ainda me lembro de cada coisa que vivemos juntos. E provavelmente vou me lembrar pelo resto da vida. Lembrar de que cada detalhe, cada segundo de cada momento da sua companhia me proporcionaram momentos únicos e inesquecíveis. Talvez por isso seja tão difícil de simplesmente esquecer. Como se esquecer de alguém que outrora me fez viver momentos tão bons? Como você conseguiu?

Bom, talvez você também não tenha se esquecido. Talvez você só tenha escolhido seguir em frente – quando se deu conta de que as coisas já não eram mais como costumavam ser – fazendo com que cada coisa que já vivemos se tornasse apenas parte da sua memória. A memória de um passado bom. Do nosso passado bom. Tudo bem! Eu entendo que algumas coisas simplesmente se perdem no tempo. É inevitável! Disso eu entendo! E foi o que aconteceu com a gente: a nossa história se perdeu.

Talvez toda aquela ideia de nós sempre ficarmos juntos, independente do que pudesse acontecer, fazendo com que nossa relação sobrevivesse ao desgaste natural do tempo tenha ficado lá atrás, na época de quando nos comprometemos a fazer isso. Mas são poucas as coisas que sobrevivem ao tempo, e as promessas que fazemos a alguém acabam se tornando uma dessas coisas.

Não tem jeito. Há coisas que por mais que a gente queira manter, com o tempo elas se vão. Já que poucas coisas são permanentes ao tempo que passa depressa e à vida que muda constantemente. É inevitável que os anos se passem sem nos causar algumas feridas. Mas cabe a nós decidir deixar essas feridas abertas para que continuem nos ferindo por muito mais tempo, ou fazer com que elas se tornem apenas cicatrizes. E cicatrizes são como um aprendizado: nos faz perceber que já passamos por coisas que nos causaram dor, mas que sobrevivemos perante elas.

A fim de selar toda essa nossa história como uma cicatriz que me impediria de continuar sofrendo e lamentando pelo que já não pode mais ser eu te perguntei se você gostaria que eu também te esquecesse. Você respondeu que seria o melhor para mim. E quer saber? Você tem razão. É preciso se desprender de coisas que nos prendem ao que não nos faz mais bem como um dia já fez. Assim como é preciso deixar que o tempo passe sem intervir tanto no que ele nos concede, para não interferir no que ele nos reserva.

Você marcou minha vida. Mas hoje você se torna a memória de um passado bom. E sempre que você me vier a cabeça, as únicas coisas de que quero recordar são dos bons momentos que você me deu ao ter feito parte da minha vida. E a ideia de você não fazer mais parte dessa vida não irá mais me aprisionar a sentimentos tristes, pois você me fez dar conta de que o tempo une e separa as pessoas, e mesmo sendo inevitável o afastamento que ele traz, ele é incapaz de fazer com que esqueçamos as pessoas que por algum tempo nos fizeram felizes.

Você chegou e me fez feliz. Nos fizemos felizes. Fomos felizes juntos. E agora que você se foi, continuaremos felizes, só que sem mais o conceito de você e eu.

Apenas você. Apenas eu.

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