O assunto que parou a noite do Oscar foi a Viola Davis ter sido premiada, certo? Mas o fato de ter sido "a primeira mulher negra a ganhar o Oscar" fez com que a internet parasse. Por quê a comoção? Isso me fez parar pra escrever sobre uma coisa que já estava entalada a algum tempo. Preciso desentalar.
Me incomoda quando eu vejo ou leio matérias cujo tema é: "primeira negra a conquistar isso" "primeiro negro a fazer aquilo". Espera aí: essa pessoa merece o reconhecimento pelo mérito ou pela cor da pele? Desculpa, mas eu não vejo diferença. Não me importa se foi a primeira negra a ganhar um Oscar. Me importa saber sobre a atuação dela e o trabalho que a fez levar o prêmio.
Não me importa se é Viola Davis ou Kate Winslet, Halle Berry ou Kristen Stewart, Brad Pitt ou Denzel Washington... Eu quero saber do trabalho de cada um como ator e como atriz, como ser humano; não por ser negro ou branco.
Sabe porque o desabafo? Porque eu penso que, enquanto a manchete do dia for o feito e o mérito de alguém pela cor da sua pele, pela sua orientação sexual ou por sua crença; o racismo, o preconceito e a intolerância também serão a manchete do dia seguinte. Nós é que damos notoriedade a uma suposta diferença que não deveria existir.
A primeira atriz negra a ganhar o Oscar? NÃO! A atriz que ganhou o Oscar. SIMPLESMENTE! Não enalteça uma pessoa pelo fato dela ser negra, você só estará dizendo: essa pessoa é diferente (por que?!), então precisa ter destaque. Até porque eu não vejo nenhuma notícia do tipo: Meryl Streep, uma das atrizes brancas mais premiadas de todos os tempos. Não. Eu só ouço dizer uma das atrizes mais premiadas de todos os tempos.
Menos distinção, mais igualdade. Quando o reconhecimento de alguém não vier acompanhado pela diferença que alguns veem entre cores de pele, crenças e sexualidade; toda e qualquer discriminação se tornará cada vez mais esquecida e ultrapassada.
Em uma entrevista feita com Morgan Freeman, ele dá uma resposta brilhante e que tem tudo a ver com o que estamos falando aqui, quando questionado sobre o que pensava sobre o ''Mês da Consciência Negra'' e sobre o racismo. "Quando vamos nos livrar do racismo?", pergunta o entrevistador. "Parando de falar sobre isso", responde Morgan. Ainda completa: "Eu vou parar de chamá-lo de branco. E o que eu lhe peço é que pare de me chamar de negro. Eu lhe conheço por Mike Wallace. Você me conhece por Morgan Freeman."
SEM MAIS!
Vou colocar aqui o trecho da entrevista, torcendo pra que um dia todos aqueles que fazem a distinção de alguém mude o seu jeito de pensar. É só o que quero. Só isso.